A China e a Índia são os países de maior população com 1,4 bilhão de habitantes cada, o equivalente a 35% da população mundial. A China e a Índia são os maiores produtores de ureia com 36% da produção do planeta. A China é o maior produtor mundial (25%), o segundo maior consumidor (16,2%) e o segundo maior exportador. A Índia é o segundo maior produtor de ureia (11%), o maior importador (13%) e o maior consumidor (29,5%). Historicamente a China é o principal fornecedor de ureia para a Índia. O Brasil é o segundo maior importador de ureia, depois apenas dos Estados Unidos. Em 2022 o Brasil importou 7,1 milhões de toneladas de ureia tendo dispendido US$ 4,4 bilhões. Nesse ano os maiores fornecedores de ureia para o Brasil foram, nesta ordem, Omã, Catar, Nigéria, Rússia e Argélia, sendo responsáveis por cerca de 83,8% do fornecimento.
A China e a Índia estão focadas no atendimento da demanda interna de alimentos, sendo a ureia o produto químico mais usado na formulação de fertilizantes. Além da ureia, que contém 46,7% de nitrogênio, os fertilizantes são compostos de cloreto de potássio e substâncias solúveis fabricadas com rocha fosfática e ácido sulfúrico. Essas misturas são conhecidas no mercado com a designação de NPK e, dependendo da aplicação na agricultura, os três elementos químicos entram nelas com diferentes proporções. Além disso, a ureia é usada para a produção de ração animal. As misturadoras de fertilizantes instaladas no Brasil importam aproximadamente 80% de ureia, 95% de cloreto de potássio e 50% das substâncias solúveis que contêm fósforo.
A matéria prima principal para se fabricar ureia é a amônia (NH3). Esta é sintetizada atualmente a partir do gás natural (metano) e o nitrogênio extraído do ar atmosférico. O gás natural é encontrado na natureza em reservatórios subterrâneos, em terra ou no fundo do mar, ou associado ao petróleo. O grande esforço que a indústria química está desenvolvendo nos dias de hoje na obtenção do hidrogênio é o da substituição do metano, de origem fóssil, pela água. O hidrogênio assim obtido está sendo chamado de hidrogênio verde e a amônia fabricada com hidrogênio verde está sendo apelidada de amônia verde. Enquanto a indústria não substitui o metano totalmente pela água na obtenção do hidrogênio, os países que mais produzem amônia e ureia continuarão usando o gás natural como matéria prima.
A produção de ureia nos países dessa parte do mundo é realizada de forma integrada (gás natural-amônia-ureia). Entre os produtores de gás natural a Rússia é o país mais importante. Eles não só produzem amônia e ureia como também são os principais fornecedores de gás para a China e a Índia, no estado gasoso ou líquido. Eles têm uma estrutura de produção muito estável, e a Índia, já citada como maior consumidora de ureia, tem grande influência na definição do preço da ureia. Ela costuma realizar leilões anuais para a compra desse insumo, motivo da destacada ingerência. As exportações para outros países como o Brasil, a preços mais baixos, podem até se dar próximos do custo marginal, uma forma de garantir elevados índices de ocupação das plantas, reduzindo, consequentemente, o custo unitário de manufatura.
O Brasil também importa amônia, sendo Trinidad e Tobago o principal fornecedor. Suas vendas costumam ser na modalidade spot e seus preços são considerados altos demais. Muitas vezes chegam a custar quase o dobro do preço da ureia. Apesar de Trinidad e Tobago estar mais próximo do Brasil, a fabricação da amônia nesse país não está integrada à fabricação da ureia, permitindo que se pratique preço de ocasião.
Essa elevada dependência, que tem o Brasil nas importações dos insumos básicos para a produção de fertilizantes, revelam a necessidade de o governo adotar medidas para aumento de sua produção no território nacional. Tal prioridade é dada não só pela necessidade de substituir as importações, que reduzem substancialmente o estoque de divisas do país, como atende a demanda estabelecida pelo seu pujante agronegócio. Ele contribui para o bom desempenho da economia, e é imprescindível na produção de alimentos, sem os quais não se pode viver.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – adary347@gmail.com
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