Eles são gigantes de ferro maciço — alguns chegam a pesar mais de 137 toneladas e a medir 40,5 metros com a lança levantada. Desativados, a maioria dos antigos guindastes hoje incorporados à paisagem do Porto do Rio está com os dias contados, para abrir espaço de operação no Cais da Gamboa. Onze das 18 máquinas foram leiloadas recentemente e serão desmontadas e transformadas em sucata.
Quanto às outras sete, que são tombadas pelo município, a intenção da PortosRio, sucessora da Companhia Docas e vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos, é manter no local apenas as duas que foram reformadas e estão onde atracam os transatlânticos com turistas. A autoridade portuária está em negociação com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), da prefeitura, já que o decreto de tombamento não permite sequer que os bens sejam deslocados.
— Tombaram alguns guindastes, o que está dificultando, atrapalhando o progresso do porto. Estão no cais em locais estratégicos. Eles não têm uso. Poderiam ser sucata, mas estão tombados. Não podemos tirá-los dali para limpar a área e fazer operação. Esse é um problema que temos que contornar — ressalta Alvaro Savio, diretor-presidente da PortosRio.
Quatro meses depois, após inspeção nos equipamentos, só oito deles, adquiridos entre 1970 e 1991, foram tombados definitivamente, entre outras razões, por fazerem parte da “paisagem portuária carioca” e serem “bens integrados à arquitetura dos armazéns”, estes tombados desde 2000.
Os guindastes preservados, entre elétricos e giratórios móveis, foram fabricados pelas estrangeiras Takraf/DWK e Kranbau. A capacidade de içamento de cada um varia bastante: vai de 3,2 a 12,5 toneladas.
Pouco depois do tombamento, a pedido da autoridade portuária, uma das máquinas foi destombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural do Rio, em fevereiro de 2016, devido ao estado crítico de conservação, e retirada do cais. Quanto ao novo pleito, a prefeitura informa que o remanejamento de alguns guindastes está sendo analisado pelo IRPH, em conjunto com a PortosRio, “que irão definir o novo local e a logística de transferência dos bens”.
Com a sucata dos 11 equipamentos arrendados em abril, foram arrecadados quase R$ 900 mil, bem mais do que o valor atribuído aos guindastes (R$ 650 mil). Um deles foi adquirido por R$ 151 mil, valor correspondente a mais do que o dobro da avaliação (R$ 71 mil). Entre os compradores estão empresas que fazem reparos navais e depósitos de materiais recicláveis.
O próximo passo, que é a retirada dos guindastes do cais, depende da aprovação do setor de segurança do Porto. Os três primeiros estão liberados para a desmontagem, mas ainda não há data para a operação acontecer.
Placa solar em armazéns
À retirada dos guindastes, se somam obras de ampliação e modernização do Cais da Gamboa (trecho mais antigo do Porto do Rio, que corresponde a cerca da metade dos 6,7 quilômetros de cais), visando ampliar a sua capacidade, de modo que possa receber embarcações maiores. A PortosRio espera concluir essas intervenções até o fim do ano.
— Pretendemos ainda licitar, no início de agosto, a dragagem do nosso canal de acesso, para atender principalmente à nova família de navios, que tem 366 metros de comprimento — conta Savio.
Mais uma novidade anunciada é voltada para energia. A intenção da estatal é, inicialmente, comprar no mercado a chamada energia limpa (gerada de recursos renováveis, sem a emissão de poluentes). Já há estudos para o uso de energia solar. Um grupo de chineses chegou a visitar o porto para analisar a colocação de placas em uma ilha. Outra possibilidade é a instalação do material no teto dos armazéns.
— O estudo está em andamento, mas se optarmos pelos armazéns teremos que consultar o IRPH, porque são tombados — lembra Savio.
Da terra para o mar, o setor jurídico da PortosRio está debruçado sobre o caso do graneleiro São Luiz, que pesa 60 mil toneladas e tem 200 metros de extensão. O navio está atracado numa das vagas do Porto em frente aos armazéns 16 e 17, há sete meses, sem nada pagar. Abandonado na área de fundeio da Baía de Guanabara desde 2016, ele bateu na Ponte Rio-Niterói em novembro do ano passado, sendo levado depois para o cais. A estatal busca uma solução para liberar a vaga.
Duas ações tramitam na Justiça Federal contra os donos da embarcação. Numa deles, a PortosRio entrou com um pedido para retirar o graneleiro do cais.
— O juiz nos autorizou a mexer com o navio. Estamos pensando de que forma vamos fazer isso. A ideia é levar para algum estaleiro. Queremos liberar o cais — afirma o diretor-presidente da estatal, Alvaro Savio. — Se o São Luiz for para um estaleiro, queremos que a empresa dona do navio arque com os custos.
Segundo a PortosRio, dos 52 navios naufragados ou abandonados na baía em duas décadas, hoje só o São Luiz tem disputa judicial, o que dificulta a sua remoção.
Navios naufragados
A ideia da PortosRio é acabar até 2024 com esse “cemitério” de embarcações na Baía. Para levar essa decisão adiante, foi obtido o apoio do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França. E também foi firmada parceria com a Capitania dos Portos, o Inea, a Secretaria estadual de Energia e Economia do Mar e com empresas que operam na baía (16, inicialmente, dispostas a arcar com os custos).
— Ao conversar com o ministro, ele me perguntou de quem era a responsabilidade por esses navios abandonados. Eu disse: “É e não é nossa, é e não é da Marinha, é e não é da prefeitura, é e não é da cidade. Na realidade, é de todo mundo e não é de ninguém” — contou Savio.
No momento, há 50 embarcações abandonadas na Baía, conforme nota do 1º Distrito Naval. Uma delas — um casco de madeira, que estava próximo ao Porto de Niterói — foi removida em 17 de maio. Os trabalhos para a retirada de outras cinco, todas de madeira — três cascos submersos e as embarcações Moura Rio II e Rosane Moura Rio I — começaram na semana passada. A remoção está sendo feita por demolição ou içamento, informa a Marinha. De acordo com a PortosRio, o custo do serviço, estimado em R$ 200 mil, será rateado entre as 16 empresas.
A Baía deverá estar livre das 42 embarcações de madeira até março de 2024. As outras nove, também sem pendências na Justiça e já em posse da União, são de aço e sua sucata tem valor comercial. Por isso, está sendo estudada a forma de como retirá-las do mar até o fim do ano que vem e vendê-las.
Fonte:O Globo | Fotos / Divulgação / Créditos: Custodio Coimbra
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