Há dois anos escrevi o artigo “O Mar Também é Nosso”, contando minha história de quando iniciei a carreira no setor portuário, e o dilema que eu, e muitas mulheres, enfrentamos para tentar conciliar carreira e maternidade. A descoberta de que não existe fórmula certa ou errada, e que se dedicar ao trabalho não me torna uma péssima mãe, e vice-versa, veio ao conversar com outras mulheres, identificar as mesmas dores e sentir a força coletiva que existe em cada uma de nós.
Lutas em comum, vitórias em comum! Naquela ocasião destaquei a importância de termos grupos e comunidades dentro setor portuário, com o objetivo de compartilhar nossas histórias e experiências, impulsionando cada vez mais mulheres a navegarem nesse mar fascinante e cheio de oportunidades que é o Porto.
E como navegar é preciso, o mar se tornou o ponto de encontro de todas nós, mulheres portuárias e marítimas.
Fruto do anseio não só meu, como de mais quatro mulheres - Daniela Pinheiro, Silvana Alves, Cristina Dutra e Ana Cláudia Barbosa -, a ideia de termos um grupo como rede de apoio entre as mulheres do setor portuário nasceu com o nome Mulheres & Portos.
Logo na primeira live, tivemos a honra de contar com a participação da Luciana Guerise, que de cara ela lançou uma provação: Estatística ou Engajamento? Quantas mulheres do setor protagonizam painéis de discussão em eventos portuários?
Sem dúvida houve uma evolução do quadro de mulheres dentro do setor portuário e marítimo. O levantamento de dados sobre equidade de gênero no setor feito pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ)[1], revela que 17,3% do total de vagas no setor aquaviário brasileiro são ocupadas por mulheres, número esse inimaginável anos atrás. No entanto, um dado ainda é espinhoso, da maioria das companhias entrevistadas, as mulheres ocupam 16,7% dos cargos de direção e 22,5% dos cargos de gerência.
Diante desses dados, a reflexão que se propõe é: Quem desejamos ser dentro do setor portuário?
Escolher se sentar à mesa em um setor dominado por homens demanda muita coragem. A ideia de se expor, falhar, ser criticada, não corresponder às expectativas dos outros, nos coloca sentadas na plateia, escondidas em nossa zona de conforto e apequenadas diante do nosso tamanho.
Durante anos esse medo me assombrou, calando minha voz e me impedindo de crescer. O medo não deixou de existir, sinto um frio na barriga toda vez que tenho que falar em público, seja em reuniões, palestras ou eventos, mas escolhi que minha coragem tem que ser maior se quero alcançar uma ascensão profissional, e somente superei isso me inspirando nas histórias de outras mulheres.
Não seremos tomadoras de decisões se continuarmos sentadas na plateia recebendo ordens de homens. Para que possamos estar numa posição de liderança, precisamos usar nossa voz de forma autêntica e, acima de tudo, ter coragem para aceitar estar sempre sob constante avaliação e julgamento. Como sempre digo, a régua para nós, mulheres, é sempre mais alta, mas devemos acreditar na nossa capacidade e o quanto nos preparamos para merecer o sucesso.
Como diz Paulo Coelho: “Somos navegantes num mar que não conhecemos; que Ele conserve sempre nossa coragem em aceitar esse mistério.”
Na estrada da vida, tive a oportunidade de contar com mulheres extraordinárias me estendendo a mão e me encorajando a enfrentar todos meus desafios, e é por essa razão que sempre que uma porta se abre para mim, procuro abrir portas para outras mulheres. Este é o mar da sororidade que todas precisamos navegar, juntas!
Shana Carolina Colaço Bertol é diretora executiva do Ogmo/Paranaguá. Advogada, formada em Direito pela Universidade de Marília/SP, pós-graduada em Processo Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, pós-graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Unicuritiba, MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas
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