De repente, MULHER PORTUÁRIA

Amor ao Porto e a tudo que o envolve. Depois que alguém ingressa no sistema portuário e se dispõe a estudar algo, até então, desconhecido e invisível aos olhos, a carreira profissional se mistura com a paixão em desvendar os mistérios escondidos pelos muros que encobertam o lindo Porto de Salvador e sua relação com nossa imensa riqueza Amazonia Azul.

Recém-formada em Analista de Sistemas, em novembro de 2000, fui convidada a participar de uma seleção para o cargo de auxiliar administrativo numa empresa chamada OGMOSA (Órgão Gestor de Mão de Obra dos Portos de Salvador e Aratu). Nessa época, não existia qualquer acesso à pesquisa para entender melhor sobre o novo trabalho. Tão pouco imaginava o que acontecia por trás dos muros que cercava o porto de Salvador e os matos que cobriam o Porto de Aratu.

Ainda assim, nesse universo desconhecido, participei da seleção com mais 25 pessoas e o destino me fez ser selecionada. Em entrevista com o diretor executivo, fui apenas desafiada a avaliar o trabalho por 3 meses, para eu decidir ou não pela minha contratação. Como assim?

Aceitei a trabalhar no setor operacional de uma empresa que ainda enfrentava muita resistência da sua existência, por parte dos mil trabalhadores portuários avulsos, 100% homens. Encarar tudo isso, de fato, era temeroso, o medo tomava conta todos os dias e no meu primeiro chorar, os colegas disseram que eu tinha sido batizada. Menos de 3 meses fui contratada e me dediquei para aplicar os meus conhecimentos em tecnologia da informação, já que tudo ainda acontecia manualmente.

Mas, no interesse em desvendar os mistérios por trás dos muros, fui conhecer as operações, os navios, toda movimentação de carga e estudar o trabalho portuário, o que desenvolveu a paixão pelo Porto. E há de se convir que com a beleza da Baia de Todos os Santos como pano de fundo dos navios atracados, não havia melhor cenário. Ah, que desafio!

Um ambiente predominantemente masculino tanto na beira do cais quanto na empresa, enfrentando as comparações que me inferiorizava, assédios recorrentes e até mesmo acusações, fez com que me iludisse, com postura de me masculinizar no tom de voz e na vestimenta, na tentativa de ser ouvida e notada. Tão logo percebi, com o apoio de outras mulheres, que não adiantava esse comportamento e me fortaleci em trabalhar sendo quem eu era e sou, mesmo naquele ambiente.

E diante dessa paixão e dedicação de querer fazer a diferença como MULHER PORTUÁRIA, meu caminhar inicia como auxiliar administrativo em 2001 até o cargo de diretora executiva em 2023, com muito orgulho dessa trajetória. E engajada, crio juntamente com outras amigas mulheres portuárias de outros portos brasileiros, a MULHERES & PORTOS, acreditando que, com uma rede de apoio formado por mulheres portuárias podemos intensificar e reconhecer nossa participação no desenvolvimento portuário.

Sim, o MAR também é NOSSO e atracar no PORTO de conquistas, é possível!

Daniela Pinheiro

Analista de Sistemas, Diretora Executiva do OGMOSA, Coordenadora do Comitê Técnico de Responsabilidade Social e Ambiental da FENOP, Idealizadora e Diretora Financeira do Grupo Mulheres & Portos.

Foto: / Créditos: Arquivo pessoal LinkeDin