No mundo dos engenhos de açúcar do Brasil Colonial, os "capatazes e feitores" desempenhavam papéis cruciais na manutenção da ordem e na maximização da produção. O que hoje pode ser chamado de meta em um mundo corporativista, a partir desse ponto começo a contar essa enriquecedora história. Boa leitura!
Os Feitores, eram trabalhadores livres, pagos pelos senhores de engenho, com salários e muitas vezes, agraciados com moradia dentro das fazendas. Sua principal função? Vigiar escravos, garantir a disciplina e quando necessário, aplicar castigos físicos.
Das chibatadas a Alforria, existia um imenso caminho a ser traçado, com alento do silêncio, em um cenário sombrio que nos leva a refletir sobre as profundas marcas deixadas pela escravidão em nossa sociedade.
Avançando alguns séculos, encontramos a mesma nomenclatura ressurgindo nos portos modernos. O setor portuário, vital para a economia contemporânea, ainda mantém termos como "capatazia" e "feitor". Entretanto, o contexto e as responsabilidades mudaram substancialmente. Hoje, a "capatazia' refere-se à operação braçal nas operações portuárias. Já o "feitor", uma função de supervisão e gestão nas operações portuária as quais se engajam.
Imagine um dia típico nos engenhos coloniais. O sol mal despontou no horizonte e os feitores já estão de pé. Com olhos atentos, circulam pelos canaviais, assegurando que os escravos iniciem suas tarefas. Cada movimento é monitorado, cada deslize punido severamente. A produtividade é a "meta", a mencionada no parágrafo acima, e a humanidade, um luxo inexistente.
Ao fim do dia, retornam às suas casas, situadas estrategicamente dentro da propriedade do senhor de engenho, um privilégio raro que os distingue dos demais trabalhadores "livres", ou melhor dizendo escravos.
Saltando para o presente
Nos portos modernos, os capatazes e feitores assumem, agora, um papel mais esmero nas operações portuárias diárias. Longe dos campos de canaviais, eles coordenam a movimentação de cargas, asseguram a segurança dos trabalhadores e mantêm a eficiência dos processos. Apesar das mudanças nas tarefas e no ambiente, a essência do trabalho - supervisão e gerenciamento - permanece intacta. Porém, a sombra da escravidão ainda se faz presente de maneira sutil, lembrando-nos das injustiças do passado.
As controvérsias na utilização de termos como "capatazia" e "feitor" atualmente é, no mínimo, controversa. Enquanto esses profissionais são agora protegidos por leis trabalhistas e atuam em ambientes regulados, a escolha dessas palavras evoca memórias dolorosas de uma época em que a dignidade humana era frequentemente ignorada.
Há um desconforto inerente em utilizar nomenclaturas que carregam um peso histórico tão negativo, especialmente em um país que ainda luta para superar as desigualdades sociais e econômicas oriundas da escravidão, por outro lado, busca um mundo digital.
As Heranças Pesadas, nos fazem imaginar se os antigos feitores e capatazes pudessem viajar no tempo e observar seus homônimos modernos nos portos. Eles veriam trabalhadores instruídos, utilizando tecnologia para monitorar operações complexas. Talvez ficassem confusos ao ver que a autoridade, antes exercida com chicotes, agora se manifesta por meio de tablets e rádios comunicadores. Ficariam maravilhados com a evolução, mas, ao mesmo tempo, perplexos com as semelhanças na estrutura hierárquica e na função supervisora.
Não podemos negar que a escravidão ainda permeia nosso sangue, influenciando nossas relações de trabalho e nossa percepção de hierarquia. Mesmo com todas as conquistas em termos de direitos humanos e trabalhistas, a sombra daquele passado distante ainda se projeta sobre nossas práticas e terminologias. É um lembrete constante de que a jornada pela equidade e justiça social está longe de terminar.
Deixe para você um desafio, com exercício de comparação e compreensão, sabendo as habilidades dos "feitores" e "capatazes" dos engenhos coloniais e os profissionais de capatazia dos portos modernos são como personagens de uma história contínua, onde a trama evolui, mas os temas centrais de autoridade e supervisão permanecem.
É necessário reconhecer e confrontar as controvérsias inerentes a essa herança, trabalhando incessantemente para que as cicatrizes da escravidão não definam nosso futuro, mas sim nos impulsionem a construir um mundo mais justo e humano.
Foto (Créditos): Acervo Público do Estado de São Paulo (APESP)
Luiz C de Oliveira - É jornalista portuário, escritor e apaixonado pelo setor, com vasta experiência em portos e logística. Ele é idealizador do site Jornal Portuário, que está entre os principais meios de comunicação e mais importantes portais de notícias do setor portuário no Brasil, com mais de 10 de história. (MTB:87682/SP)
Autor do livro "Ship Planner Planejamento Operacional V1", a 1° obra em referência ao planejamento e embarque de containers em navios cargueiros, que tem contribuído significativamente para o desenvolvimento e aprimoramento do setor portuário do país.
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