Quando entrei em navegação em 1976 tudo era muito desconhecido, e senti na pele o que é aprender fazendo, sem entender por que fazia. Me recordo dos tempos que comecei na Rodrimar-Eurobrás e corria pela Praça da República em Santos com vários conhecimentos marítimos originais e cheques em um folder de plástico, debaixo de chuva muitas vezes. Ia de prédio em prédio onde ficavam as agências e armadores como as extintas Moore-McCormack, Delta Lines, Rosaline, Expresso Mercantil, o Lloyd Brasileiro e outros para “liberar o b/l”, ato que consistia em pagar frete e taxas e obter um carimbo e assinatura no conhecimento original.
Não fazia ideia de que levava comigo um papel útil na mão de golpistas, um título que podia ser trocado por dinheiro em um banco, ou um documento de prova de propriedade que, se danificado ou extraviado, causa uma tremenda dor de cabeça e prejuízo para o dono da carga. Por sorte ou proteção divina, nunca perdi um, mas quando me lembro do que fazia aos olhos do que hoje sei, sinto arrepios...
Os tempos atuais são outros, claro, com menos documento físico circulando e mais eletrônico, e a tecnologia simplificou muitas etapas do processo. Mas nossa experiência nos últimos anos atuando como consultores em chartering e transporte marítimo, e também ministrando cursos na área, tem evidenciado cada vez mais o fato de que muitos jovens que entram no mercado de shipping, seja em armadores ou agentes de carga, ou agentes marítimos, empresas de chartering, trading companies, etc. ainda caminham no escuro, sem saber onde pisam. Lidam com contratos, negociações e executam operações sem ter ideia clara das responsabilidades envolvidas e dos riscos que estão correndo.
Aprendem – se é que isso é aprender no sentido pleno da palavra – fazendo, apenas executando uma tarefa sem entender por que a fazem, e sem muitas vezes ter tempo para questionar o que estão realizando. Vemos inclusive profissionais que estão em cargos de liderança que nunca leram um bill of lading ou um charter party. E aí, como alguns dizem, se lerem, não embarcam... Ou se seus jurídicos puserem os olhos em um b/l, desistem do negócio.
Onde está falha nisso? Nos profissionais ou nas empresas?
Creio que é uma combinação de ambos. As empresas deveriam buscar qualificar seus colaboradores para agir em seu nome, até mesmo para sua própria proteção. E os profissionais precisam sair do comodismo do “aprendi assim” e buscar uma postura mais inquieta, inconformada com a rotina, e estarem constantemente desejosos de entender o significado das coisas.
Precisamos evoluir tecnicamente para deixarmos de ser apenas “filiais executoras” que seguem instruções dos head offices europeus, sem ter a chance de entender e opinar, e desejarmos ter relevância como centro de excelência em transporte marítimo. Por que temos muitas vezes, salvo algumas exceções, o sentimento de vira-latas em relação aos europeus? Por que muitas mesas de afretamento de empresas brasileiras estão baseadas na Europa ou nos Estados Unidos, ou mesmo na Ásia? A resposta é justamente a falta de conhecimento e competência local, fruto de falta de investimento em conhecimento e formação de profissionais pelas empresas, e uma contínua postura passiva. Falta o entusiasmo pela carreira e o desejo pessoal de ser melhor e inverter essa lógica norte-sul – e, vejam bem, não estou aqui defendendo ideologias.
Roberto Brandão - Consultant na TAP Consultoria e Treinamentos em Logística Ltda.
Siga-me no LinkeDin
Sobre a TAP CONSULTORIA
Para nós da TAP CONSULTORIA é um prazer compensador ver que estamos despertando o interesse dos novos profissionais de shipping para a necessidade da capacitação para essa atividade tão especializada. E estamos cada dia expandido nossas próprias fronteiras de conhecimento para apresentar continuadamente uma opção sólida, consistente e confiável de formação técnica em afretamento e transporte marítimo no Brasil, que pode, sim, ser uma alternativa aos cursos europeus oferecidos nessa área.
E sempre instigamos nossos alunos e clientes a questionar, aprender, fazer diferente, e não apenas agir passivamente diante de práticas perpetuadas pelo sentimento de incapacidade e pela passividade.
Talvez nosso esforço venha contribuir para uma mudança nesse status quo. É nossa esperança.
Saiba mais: https://tapconsultoria.com.br/
Imagem: Meramente ilustrativa
O canal do Jornal Portuário chegou no WHATSAPP!
Entre agora mesmo!
INFORMATIVO
Comentários
Nossa política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre os assuntos abordados nas notícias divulgadas, de forma democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente desconsiderados.
Deixe seu comentário: