O mundo tem comentado incessantemente o desaparecimento do submersível Titan, que carregava quatro passageiros e um piloto em uma viagem em direção ao fundo do mar para observar os escombros do Titanic, a cerca de 1.450 quilômetros da costa de Cape Cod, Massachusetts, nos Estados Unidos, e 3.800 metros debaixo d’água. Operado pela Oceangate Expeditions, uma empresa privada com sede no estado de Washington, o submersível implodiu.
A história é inusitada, por se tratar de uma cápsula pequena, que não foi submetida a uma análise de certificação de classe e era guiada por um controle de videogame. A viagem custou US$ 250 mil (o equivalente a R$ 1,2 milhão) e seus passageiros eram bilionários que visualizariam os escombros por meio de uma única janela, minúscula, e por telas de vídeo...
Mas o que os desastres do Titanic e do Titan têm em comum? O Titanic é um símbolo da negligência ao gerenciamento de riscos. Considerado como inafundável, ele era o maior navio do mundo e naufragou em 14 de abril de 1912, após colidir com um iceberg. Aproximadamente 1.500 pessoas morreram na tragédia. No desastre do Titanic, o comandante foi avisado sobre os icebergs e, mesmo assim, aumentou a velocidade em uma região de gelo, numa noite sem lua. Porém, mais de um século depois, parece que a lição não foi aprendida e, surpreendentemente, verifica-se a ocorrência de um acidente no mesmo local e cuja causa resulta mais uma vez de uma conduta negligente.
A imprensa tem divulgado que o CEO da Oceangate, Stockton Rush, que inclusive pilotava o submersível, estava ciente dos riscos da expedição. Em 2018, foi alertado por diversos especialistas que a tecnologia utilizada no submersível era inadequada para operar em águas profundas e que insistir no projeto poderia colocar vidas e toda a indústria em risco. Em resposta às criticas, Rush, que já havia admitido ter quebrado “algumas regras” para construir e colocar em operação o submersível, afirmou que a tecnologia do Titan ia “de encontro à ortodoxia dos submersíveis” e destacou que estava “cansado” de quem usava o argumento de segurança para impedir a inovação e a entrada de novas empresas no mercado. Afirmou, ainda, que a partir de um certo ponto, “segurança é desperdício”.
Segundo a BBC, em resposta a esta afirmação, Rob McCallum, um dos especialistas em exploração em alto-mar que apontou as falhas do projeto Titan, respondeu que, ironicamente, em sua expedição aos escombros do Titanic, Rush estaria repetindo aquela famosa afirmação de que o submersível seria inafundável.
Nesta semana, os governos dos países envolvidos no incidente estão se reunindo para discutir como vai ser a investigação que tentará confirmar a teoria de que uma implosão causou a morte dos tripulantes que estavam a bordo do Titan. Caso a hipótese da implosão catastrófica se confirme, será necessário analisar quando e por qual motivo isso aconteceu.
A pergunta que fica é: até quando os lucros devem ser priorizados em detrimento da segurança? Assim como a tragédia do Titanic nos trouxe lições valiosas e muitos avanços na questão da segurança marítima, o caso da Oceangate deve provocar a discussão sobre as regulamentações e padrões para missões subaquáticas. Que o episódio também possa alertar ao mundo, mais uma vez, que segurança não é desperdício… E ao contrário do que dizia Dorival Caymmi, não é doce morrer no mar. No momento da finitude da condição existencial, morrer no mar será sempre aterrorizante e “salgado”.
Por: Eliane Octaviano
Fonte: A Tribuna | Fotos / Divulgação / Créditos: Oceangate
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