O potencial do uso das hidrovias para o transporte de grandes volumes de cargas, por longas distâncias, além de sua essência mais sustentável e socialmente responsável, nos convida a uma reflexão sobre a multimodalidade como estratégia essencial para otimizar a eficiência do cenário logístico brasileiro.
Um estudo da CNT (Confederação Nacional do Transporte) revela que, embora o Brasil disponha de uma extensa malha de vias interiores navegáveis, apenas 2,3 km para cada 1 mil km² de área são de vias interiores economicamente utilizáveis, enquanto países como China e Estados Unidos, possuem, respectivamente, 11,5 km e 4,2 km por 1 mil km² de área.
Essa subutilização brasileira destaca a necessidade urgente de integrar, eficientemente, diferentes modais de transporte, como rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo, para ampliar a eficiência e a sustentabilidade do sistema e permitir o aproveitamento do diferencial natural que o país possui.
A exploração do pleno potencial das vantagens das hidrovias é imperativa, não apenas para a eficiência logística do comércio interno, mas também para fortalecer a competitividade de nossos produtos exportados.
A resposta mais eficaz e imediata a esses desafios está na multimodalidade, permitindo uma transferência mais fluida de cargas entre diferentes modais de transporte.
Essa transformação, que está em nossas mãos para ser realizada, reduz os tempos de trânsito, diminui significativamente os custos logísticos e traz, de imediato, uma melhoria na descarbonização da cadeia logística de forma sistêmica.
Diante da vasta geografia brasileira, de cerca de 8 milhões de km², é necessário repensar o modelo de transporte e escoamento de cargas, principalmente a granel.
O atual predomínio do modal rodoviário não mais atende plenamente às demandas logísticas do país, que tem se consolidado cada vez mais como um grande exportador de produtos agrícolas, minerais, siderúrgicos, papel e celulose, entre outros.
Por isso, o aproveitamento de apenas um terço dos rios navegáveis representa uma oportunidade significativa para aprimorar a eficiência da matriz logística do Brasil, sendo a multimodalidade o caminho mais óbvio e viável para garantir ao país que toda sua eficiência conquistada nas cadeias produtivas seja também estendida, por meio de uma logística mais eficiente e sustentável, até os portos de exportação.
Tudo isso se amplifica na medida em que estamos em um país com dimensões continentais. Nossa matriz de transporte, ainda hoje, é incompatível com o potencial hidroviário do país que possui a maior bacia hidrográfica do planeta.
Desta forma, a hidrovia surge como a opção mais eficiente, ambientalmente amigável e socialmente responsável para transportar grandes volumes em longas distâncias e a promoção da integração dos modais rodoviário, ferroviário e hidroviário nos oferece a possibilidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na cadeia logística, contribuindo para objetivos sustentáveis.
Precisamos conectar o interior do país por meio das rodovias, que se ligam às ferrovias, e está às estações de transbordo de cargas nas hidrovias, chegando aos portos de exportação de forma mais eficiente e sustentável.
De acordo com dados da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), para transportar 1 tonelada por mil quilômetros por hidrovias, há emissão na atmosfera de 74 gramas de dióxido de carbono, enquanto o modal ferroviário lança 104 g de CO2 e o modal rodoviário 219 gramas do composto químico.
A descarbonização da cadeia logística, fundamental na atual agenda climática, é crucial para mitigar as emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa), uma vez que o setor de transporte contribui significativamente para essas emissões.
Com isso, a multimodalidade também contribui para a sustentabilidade ambiental ao integrar modos de transporte mais ecoeficientes, como as hidrovias, reduzindo as emissões de carbono e minimizando os impactos socioambientais.
No entanto, para alcançar plenamente os benefícios da multimodalidade, são necessários investimentos significativos em infraestrutura. A construção e manutenção de portos, terminais de transbordo intermodais e vias de acesso são cruciais para garantir a eficiência e segurança nas transferências intermodais.
Políticas e regulamentações que incentivem a colaboração entre os diferentes modais de transporte também são fundamentais para o sucesso desse modelo integrado.
Em conclusão, a ampliação do uso do modal hidroviário e a busca pela multimodalidade não são apenas uma necessidade, mas uma oportunidade estratégica para redesenhar a matriz de transporte de nosso país.
Ao superar desafios, promover a integração eficiente entre os modais de transporte e investir em infraestrutura e tecnologia, o Brasil pode fortalecer ainda mais sua posição global como um grande player exportador, de forma mais eficiente e sustentável, impulsionando o seu desenvolvimento econômico e reduzindo o impacto ambiental.
*Fabio Schettino é CEO da hidrovias do Brasil.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.
Fonte: Press Reliase/Clipping | Foto: Divulgação / Créditos:
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