Dois anos após vencer o leilão da Fiol (Ferrovia de Integração Oeste Leste), a Bamin (Bahia Mineração) acaba de iniciar as obras da ferrovia e começa a fazer as primeiras intervenções no Porto Sul, em Ilhéus (BA). Até agora, R$ 1,8 bilhão foi aportado pelo acionista, segundo o presidente, Eduardo Ledsham. Desse total, R$ 1,2 bilhão irá para a ferrovia e R$ 600 milhões, para o porto. A empresa é controlada pelo Eurasian Resources Group (ERG), do Cazaquistão.
Trata-se de apenas uma parcela do plano de investimentos ambicioso da companhia, que quer ampliar sua produção de minério de ferro, em Caetité (BA), e viabilizar o escoamento da carga via ferrovia e porto. Só na Fiol, estão previstos R$ 5 bilhões de investimentos, no total, ao longo dos 35 anos da concessão – valor que inclui a conclusão da ferrovia, já iniciada pelo governo federal, e a compra de material rodante. Além disso, a empresa planeja construir, desde o zero, o Porto Sul, o que demandará outros R$ 6,7 bilhões ao todo.
Para as próximas etapas das obras, a Bamin ainda negocia o financiamento junto ao BNDES e ao Banco do Nordeste, segundo o executivo. A expectativa é que a liberação do crédito, que deverá corresponder a 70% do empreendimento, seja concluída até 2024, segundo o executivo. “A gente vem conversando há mais de um ano, e a expectativa é fechar o pacote de financiamento em 2024”, disse. Procurados, BNDES e Banco do Nordeste não se manifestaram até o momento.
Questionado sobre a atração de sócios ao projeto – uma possibilidade estudada desde antes do leilão, mas que não se viabilizou -, Ledsham afirmou que o grupo “está sempre aberto, mas que não há conversas em curso.
O trecho da Fiol operado pela Bamin, que vai de Ilhéus a Caetité, já havia sido iniciado pelo governo federal, e agora caberá à empresa concluir o empreendimento. O grupo decidiu começar os trabalhos por um trecho de 127 km entre Ilhéus e Aiquara (BA). Dos quatro trechos que compõem a ferrovia, este é aquele com a menor taxa de execução, com apenas 37% das obras feitas. Nos demais, o andamento está em 67%, 100% e 68%, disse ele.
O começo das obras, inicialmente programado para 2022, atrasou devido à dificuldade de fechar o contrato com a construtora, segundo Ledsham. “O setor [de infraestrutura] hoje tem uma alta demanda, e, para uma obra desse volume, o mercado ainda é carente de construtoras.” Hoje, a previsão do grupo é entregar tanto a Fiol quanto o Porto Sul até o primeiro semestre de 2027.
No caso do Porto Sul, até o momento, foram feitas intervenções iniciais “offshore” [longe da costa], segundo o executivo. “Vamos começar neste ano a abertura da pedreira que vai gerar os blocos para o quebra-mar.” Um dos obstáculos para a construção do terminal eram os questionamentos de impacto ambiental do porto, porém, o presidente diz que a licença de instalação já foi renovada por mais seis anos.
O projeto do Porto Sul prevê, primeiro, a construção de um terminal para minério e, depois, outro destinado a grãos – carga que deverá ter peso grande na Fiol.
“Nosso foco é entregar a Fiol 1 e o porto, mas vamos avaliar a Fiol 2”, destaca Eduardo Ledsham.
Quando finalizada, a Fiol deverá ter capacidade para transportar 60 milhões de toneladas por ano – das quais 26 milhões deverão ser ocupadas pela produção de minério de ferro da Bamin em Caetité – quando atingir a maturidade prevista pela companhia.
Hoje, a mina Pedra de Ferro produz 1 milhão de toneladas ao ano, e a empresa já entrou com pedido para elevar o volume a 2 milhões. Por enquanto, a produção é escoada por caminhão até um terminal a 40 km de distância, onde a carga segue pela Ferrovia Centro Atlântica (FCA), da VLI. “É uma logística cara, mas tem o benefício de dar visibilidade ao produto”. Neste ano, a empresa fechou contrato com a Anglo American para fornecer minério.
Enquanto o escoamento depender da VLI, Ledsham estima que o potencial máximo será de 3 milhões de toneladas por ano, devido às limitações da FCA. “Por isso, o foco é concluir o empreendimento, que vai viabilizar a mina.”
A Bamin ainda estuda a possibilidade de antecipar o início da operação, de forma parcial, antes de 2027. A ideia seria transportar a carga, de caminhão, até um ponto da Fiol e, de lá, seguir ao Porto Sul. O esquema possibilitaria ampliar o escoamento para 5 milhões de toneladas. “Mas ainda estamos avaliando a viabilidade.”
Questionado sobre o interesse no leilão dos demais trechos da Fiol – que o governo federal planeja conectar com a ferrovia Norte-Sul, em Figueirópolis (TO) -, o executivo diz que o projeto será avaliado, mas que não é o foco.
“A Fiol 2 [trecho de Caetité a Barreiras] está 52% construída, o governo tem estudado fazer o leilão em 2024. Para a Bamin, é uma oportunidade, o fato de ter o mesmo operador ao longo da via também evita a discussão de direito de passagem. Mas nosso foco é entregar a Fiol 1 e o porto. No momento certo, vamos avaliar.”
Fonte: Valor Econômico | Fotos / Divulgação / Créditos: Eduardo Ledsham, presidente da Bamin — Foto: Ulisses Dumas – Divulgação
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