Um acordo entre a DP World, importante empresa global de logística para a cadeia de suprimentos, e a Rumo, uma das principais concessionárias de operação ferroviária do País, prevê a construção de um novo terminal portuário para movimentação de grãos e de fertilizantes no Porto de Santos. O valor empenhado é de R$ 2,5 bilhões para a construção, e o ativo faz parte de um processo de diversificação de atividades. Capitaneando o processo, o CEO da DP World Santos, Fábio Siccherino, concedeu entrevista para A Tribuna sobre esse e outros temas.
Qual foi o caminho trilhado até chegar ao acordo com a Rumo?
Começamos a operar em Santos em 2013. Naquela época, éramos um operador de contêineres e a estratégia era crescer unicamente em carga conteinerizada. Passando alguns anos, iniciamos uma estratégia de diversificação de carga, considerando que somos um terminal privado e que temos, dentro da nossa autorização, um portfólio bastante extenso de cargas que a gente pode movimentar. Começamos, perto de 2016, 2017, a avaliar outras opções no mercado.
Então, a primeira etapa dessa diversificação foi com a celulose. Em 2018, esse complexo que temos hoje iniciou a operação efetivamente, com uma capacidade de 3.6 milhões de toneladas. O resultado foi bastante positivo: você diversifica um pouco as cargas. Foi uma estratégia bem recebida pela DP World em nível global.
Como foi esse início da diversificação?
Passada essa primeira etapa, nós ainda tínhamos uma área bastante importante para expansão. Começamos a avaliar que outro tipo de carga poderia fazer parte desse processo. A gente tinha a opção de seguir crescendo em contêiner e, eventualmente, buscar outros parceiros de celulose. Identificamos a possibilidade de fazer parte do agronegócio, um setor que cresce demais, um dos principais produtos da pauta de exportação brasileira. E não dá para ter uma discussão de agronegócio em Santos sem envolver a Rumo, que é o principal operador ferroviário do País, o que conecta, de forma mais intensiva, Mato Grosso e Goiás ao Porto de Santos. Começamos a trabalhar nesse possível projeto em conjunto. No final, chegamos a uma solução de engenharia para ter um terminal de movimentação, mais ou menos, de 12 a 12,5 milhões de toneladas entre grãos e fertilizantes. Perto de 9 milhões de toneladas de grãos, basicamente soja e milho, e 3,5 milhões de fertilizantes.
Como se desenvolveu o projeto para o multipropósito?
Fechamos esse ciclo de diversificação e ainda restou uma possibilidade de expansão de contêineres. Anunciamos a expansão da carga conteinerizada, saindo de 1,2 milhões para 1,7 milhões, num período de dois anos a dois anos e meio, que envolve a expansão do cais. São 190 metros de expansão, a aquisição de novos equipamentos, sendo um investimento total de US$ 85 milhões. Aí, a gente, mais ou menos, inclui as expansões do terminal. Fizemos recentemente a expansão da operação de celulose com a Suzano, saindo de 3,6 para 5 milhões de toneladas de celulose. Isso nos coloca na posição de maior terminal multipropósito do País. Vamos chegar a 12,5 milhões de toneladas de grãos; 1,7 milhão de TEU (unidade de um contêiner tradicional) de carga conteinerizada e 5 milhões de toneladas de celulose. Essa é nossa grande estratégia para o País. Em contêineres, temos condições técnicas de chegar em 2,2 milhões, isso requer um investimento substancial, que é trazer uma tecnologia nova para o Brasil, que é o BoxBay, um sistema de armazenamento vertical de contêineres. Temos esse sistema em Dubai, é uma patente nossa, com uma outra empresa alemã, que permite você empilhar 11 contêineres de alto cheios, ou 17 de alto vazios. É um projeto revolucionário.
O acordo com a Rumo é um ganho não só logístico, mas estratégico para a empresa?
Sem dúvida. A gente consegue um equilíbrio, um balanço melhor entre os segmentos. A celulose é muito estável, o Brasil é o principal exportador. O agronegócio nem preciso falar – o Brasil é um dos três maiores players mundiais nesse segmento. A gente tem uma carência muito grande de fertilizante, além do contêiner. O grão tem sua sazonalidade, o contêiner tem seu ciclo de mercado; e isso fortalece a campanha a nível Brasil, para que a gente possa ficar numa situação melhor, para atrair novos investimentos. Durante muitos anos, trabalhamos tendo prejuízo no terminal de Santos por diversas situações de mercado, entraves regulatórios, questões de insegurança jurídica. Tudo isso contribuiu, durante muito tempo, para que os investimentos no Brasil ficassem sob análise muito crítica.
Sobre a série de investimentos listados anteriormente: quais os prazos para implantação?
Primeiro é o investimento no berço: estamos aumentando 190 metros. Deve começar as obras ainda no primeiro semestre, e mais ou menos 18 meses de obra. Sobre os equipamentos, estamos colocando, agora, todas as ordens de compra, mas eles têm um prazo mais longo, entre 18 e 24 meses para entrega (portêineres, RTG). Diria que, para que tudo esteja operacional, o horizonte é de dois anos, a contar do meio desse ano.
Você falou sobre insegurança jurídica: como você analisa a formação da comissão de juristas pela Câmara para estudar mudanças no arcabouço jurídico portuário?
Desde a pandemia, conseguimos observar a fragilidade dessas cadeias globais de valor, e a necessidade de a gente construir cadeias mais resilientes, com soluções mais adequadas às situações que estamos vivendo no mundo. A gente precisa, o tempo todo, estar revisitando nossas normas, nossas regulações, e vendo de que maneira a gente pode contribuir para ter um estoque de capital de infraestrutura mais alinhado com o crescimento do País. Essa comissão busca revisitar os modelos existentes e avaliar de que maneira a gente pode criar condições. Estou falando de estabilidade regulatória, de segurança jurídica. O Brasil precisa se inserir mais na economia global. A minha expectativa é que a gente consiga mudar de patamar, criando condições atrativas para o investimento privado. A outra é: o investimento público também precisa caminhar em paralelo, criando condições para o investimento privado. Falo da terceira via de acesso da Imigrantes, a questão de dragagem – essa é fundamental, pois não adianta ter um arcabouço jurídico e regulamentação que incentive a vinda de novos terminais, é preciso criar condições de acesso para navios maiores, por exemplo.
Os gargalos nos acessos terrestres também são um grande entrave para esse crescimento do Porto...
Tem que ser um trabalho em conjunto, envolvendo Governo do Estado e Governo Federal. No final do dia, não adianta você ter uma solução que chega à Baixada e, aqui, engargala de novo. Assim como não adianta ter uma solução eficiente na Baixada e não conseguir chegar. Uma das decisões nossas de crescer em segmentos que não são tão dependentes do rodoviário, foi por causa disso também. Hoje, a celulose chega (97, 98% do volume) por ferrovias. O grão talvez não chegue a esse percentual, até pela localização, mas é mais de 80% ferroviário também. Acho que aliar o crescimento ao melhor equilíbrio da matriz de transporte. Sem criar mais gargalo e mais dependência de uma terceira via rodoviária.
E quanto a leilões de concessões: há alguma participação no horizonte?
Estamos olhando todas as oportunidades, que serão avaliadas. Itajaí é um real interesse nosso. Vamos olhar, estamos estudando de perto. Agora, depende de como virá o edital, se entra dragagem, quais as condições. Se forem interessantes, vamos participar.
Qual a estratégia de crescimento global da companhia e o papel do Brasil nesse processo?
Um ponto importante: uma das linhas de grande crescimento da companhia, dentro da estratégia global, é crescer nas operações porta a porta. Estamos abrindo escritórios, e a ideia nossa é prestar o serviço porta a porta. Temos uma companhia que já está operacional. Toda essa infraestrutura que a gente cria vai sustentar o crescimento da operação porta a porta. Estamos com um programa muito forte, com escritórios a nível global – são mais de 100 novos escritórios. Essa é a nova linha de crescimento da empresa. Uma área grande de crescimento é na logística, e está sendo colocado muito esforço nisso.
Fonte: A Tribuna Santos| Foto (Créditos): Divulgação
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