Tempos atrás escrevi para um periódico local que o Porto de Salvador foi o porto mais movimentado do Atlântico Sul durante os primeiros séculos do Brasil Colônia, quando Salvador era a capital administrativa das terras portuguesas. Pelo Porto do Brasil, como era chamado, circulavam as mercadorias comercializadas com a Metrópole e outras nações. Sua importância começou a diminuir com o uso das máquinas a vapor na navegação marítima, com o início da operação do Canal de Suez em 1869 e com a construção do Canal do Panamá, inaugurado em 1914.
O atual Porto de Salvador está situado numa área naturalmente protegida da Baía de Todos os Santos e foi inaugurado em 13 de maio de 1913. Sua administração passou para a Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba) em 17 de fevereiro de 1977, quando foi criada. Seu Plano de Desenvolvimento e Zoneamento Portuário (PDZ) é bastante abrangente e descreve a localização, acessos, condições climáticas, hidrografia, navegação e instalações. Seguem-se considerações sobre o fluxo de carga e de passageiros, frota de navios, situação operacional e ambiental e, o mais importante, a interação porto-cidade. Muitas das instalações sofrem modificações com o passar do tempo. A construção da Via Expressa Baía de Todos os Santos, conectando a BR-324 ao Porto, foi a mais importante, por ligar a área do Centro Industrial de Aratu (CIA) ao ambiente portuário com moderna rodovia para veículos pesados, que em pouco mais de 10 minutos fazem o percurso sem congestionar os logradouros da cidade. O CIA passou a perder sua característica de área industrial para se tornar área retro portuária.
Dentre as diversas instalações destaca-se o Pátio de Triagem, responsável por disciplinar o acesso de caminhões e controlar o fluxo de veículos de carga que se destinam ao Porto. Acontece que com o passar do tempo o aumento da movimentação de carga proporcionou também o de veículos, tornando o Pátio obsoleto, requerendo sua ampliação ou construção de novas áreas, adjacentes ou não, para estacionar veículos, evitando gargalos e paradas limitantes do fluxo normal de viaturas. A improvisação das paradas, principalmente nas horas de pico, o início de novas construções locais e a perspectiva da vinda da Ponte Salvador -Itaparica está gerando um enorme molesto nas relações das pessoas que administram a Codeba com os donos de carga, empresários que fazem um esforço enorme para manterem-se competitivos, não admitindo nem sequer pensar no aumento de custo oriundo de deslocamentos e possíveis taxas adicionais que encareceriam os serviços portuários.
A solução apresentada pela Autoridade Portuária foi a de construir um pátio remoto, fora da poligonal do Porto, com exploração privada e de utilização obrigatória para os usuários, com cobrança de taxa de utilização. Ela está sendo considerada pelos empresários como um contrassenso inaceitável, e fazem indicação de alternativas menos onerosas, inclusive a de utilização de áreas dentro do próprio Porto. Alegam os movimentadores de carga, com certa razão, que o deslocamento do Pátio de Triagem para fora da poligonal implicaria em transtornos sendo inevitável o aumento do frete, redução do volume de carga transladado por dia, aumento do tempo de deslocamento, dilato do estoque em trânsito, crescimento do consumo de combustível, majoração das tarifas de transporte e, sobretudo, enfraquecimento da relação porto-cidade. Nada que pudesse ser considerado aumento de benefícios, operacionais ou sociais.
As discussões prosseguem e há de se encontrar uma solução que não interfira no tráfego da cidade, eleve o consumo de combustíveis, reduza as vantagens naturais do Porto de Salvador, ou que penalize os empresários e a classe trabalhadora. Afinal, tudo que ameace a competitividade deve ser rechaçado. Há de se encontrar uma solução harmônica, devendo os debates serem mais abrangentes, não ficarem restritos apenas a pessoas ocupadas com as operações portuárias, mas de agentes urbanos capazes de criar opções mais benéficas para os moradores da cidade e obreiros desse importante equipamento de trabalho e geração de riqueza, que determinou a construção da cidade nesse pedaço de paraíso terrestre.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – adary347@gmail.com
Fotos / Divulgação / Créditos: Codeba
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