Ele está lá, no centro da arena. Ágil, corajoso, destemido e com seu uniforme típico: o toureiro. Um verdadeiro herói, poderoso e admirado pelo público. As pessoas vibram e aplaudem, enchendo-o ainda mais de coragem e poder. Em um canto, o seu adversário. Forte, musculoso e corajoso: o touro. Ele bufa, arrasta os pés, ameaça o toureiro e faz o público delirar e torcer, embora todos já saibam o desfecho final: a morte do touro.
Trata-se de uma luta desigual, mas mesmo assim o público quer ver a derrota daquele que certamente será batido. Traçando um paralelo com a Copa do Mundo, assim foi o jogo de ontem entre Espanha e Marrocos. Todos acreditando que o toureiro (Espanha) derrotaria o touro (Marrocos), mas não foi bem assim.
Gestores antenados já entenderam que os modelos de governança mudaram e não há concorrentes que não estejam preparados. Por outro lado, ainda existem aqueles que acreditam que o “poder” de suas capas, assim como a do toureiro, irá amedrontar o touro.
Esse jogo da Copa ilustra questões que podem ser transpostas para vários aspectos do nosso setor portuário. De quem é o poder, afinal? Quantas vezes nos vemos investindo contra um “toureiro que busca nos ferir”? Em quantas situações não enxergamos que estamos cegamente tentando derrotar algo que nós mesmos deixamos cada vez mais poderosos?
Precisamos identificar se estamos lutando por objetivos que interessam, ou se estamos simplesmente investindo nossa força para derrotar o toureiro. O que acontece ao touro quando eventualmente derrota o toureiro? Sábio é aquele que entende que o aprendizado é proveniente da disciplina ou da decepção.
A agenda deve se concentrar em resolver as questões de interesse do Porto de Santos e devemos fazer isso com muita responsabilidade e disciplina. Caso contrário, teremos a decepção de ver outros portos se desenvolverem mais rapidamente que o maior complexo do Hemisfério Sul.
Passamos o ano de 2022 debatendo a privatização do porto santista, perdemos amizades por questões políticas, não endereçamos os problemas de acesso rodoviário nas duas margens e a dragagem e, por fim, teremos uma nova gestão portuária no horizonte. Muitas vezes ficamos insistindo em discussões ou traçamos planos sem saber exatamente onde tudo aquilo vai nos levar. Lutamos pela luta, simplesmente para alardear uma “possível” vitória. Quanta cortina de fumaça.
Diversos especialistas afirmam que existe fuga de carga de Santos, outros apresentam estudos que apontam a falta de capacidade e que temos de tratar do tema com urgência. Saberemos quando parar de fazer política e começar a pensar no desenvolvimento. Como iremos atingir o planejamento proposto de movimentação no Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) daqui 20 anos sem capacidade e, principalmente, sem os acessos terrestres estruturados?
O mercado segue em constante movimento e outros portos estão se desenvolvendo com muita eficiência. Cito como exemplos Paranaguá, Pecém e o Arco Norte. Empresas de tecnologia seguem a cada dia mais envolvidas nas tomadas de decisão de grandes corporações indiretamente, pois sem elas os programas de computadores e futuras demandas de integração e desenvolvimento dos investimentos e controles podem não ocorrer pelo colapso da prestação de serviços ou de falta de mão de obra. Em nosso porto, já estamos em alerta, mesmo sabendo que o protecionismo de mercado pode acabar com o próprio negócio. Lembro de ouvir em meados de 2000 que nunca o Porto de Santos perderia carga para outros. O que estamos vendo hoje?
O touro não tem nada a perder por entender que se trata de uma luta desleal contra o toureiro. Mas sua vontade de sobreviver pode ser sua arma para vencer o adversário. Marrocos entrou em campo para o tudo ou nada e saiu com o tudo. O Porto de Santos está preparado para enfrentar os novos touros do mercado? Custos não previsíveis, instabilidade jurídica, alternância de receita por conta de mudança contratual fruto de interferência política são componentes de uma fórmula que represa investimentos e faz com que o risco da mudança de rota para outro local (porto) seja atrativo e gere dividendos interessantes.
O risco do novo é mais atrativo do que a incerteza de resultados convertidos. A dinâmica e a velocidade do mundo deram condição do touro vencer o toureiro. Não podemos descartar a habilidade do toureiro, mas o que queremos ser, quando e como? Touro ou toureiro? A resposta da questão é a velocidade de alternância para tomada de decisão?
*Maxwell Rodrigues, executivo e apresentador do Porto 360°
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Fonte: A Tribuna On-line | Imagem meramente ilustrativa
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